Desde o início da Pandemia, muito se passou a nível da sociedade e da vida específica de cada um de nós.
Muitas foram as orientações preconizadas pela DGS e Ministério da Saúde ao longo dos meses, conforme a situação pandémica foi evoluindo, nem todas entendíveis, nem todas coerentes, nem todas consensuais, nem todas praticáveis ou praticadas.

Chegados a este momento de reentrada na vida escolar, acrescem as orientações do Ministério da Educação.
Cada Agrupamento Escolar fez a sua preparação deste início de ano letivo, contemplando tais orientações, conforme o possível perante a sua realidade e recursos (físicos e humanos), tentando ir ao encontro do mais desejável.
Não pode restar dúvida da magnitude deste esforço por parte de todos os Agrupamentos Escolares sem exceção, para tentar manter a comunidade escolar íntegra e funcional.
Este esforço existiu não só na preparação do ano escolar mas perpetuar-se-á em todos os momentos no pensamento/atitude/exigência dos diversos intervenientes (direções, corpos docentes, todos os técnicos auxiliares de educação), assim como também deverá estar na atitude de cada aluno.

E é aqui que entra a família de cada criança/adolescente.

No primeiro momento devemos transmitir confiança aos nossos educandos: se todos tivermos uma postura adequada, sobretudo consciência da importância que tem o comportamento de cada um, tudo poderá evoluir sem grandes sobressaltos.

  • Máscara usada de forma correta, nas faixas etárias em que foi preconizada;
  • Desinfeção das mãos frequente e evitar ao máximo levá-las à cara – O MAIS IMPORTANTE!;
  • Etiqueta respiratória (espirrar ou tossir para a face interna do cotovelo mesmo com máscara, pois esta não é inerte; utilizar um lenço de papel de uso único e de imediato colocá-lo no lixo);
  • O afastamento interpessoal de um a dois metros, entre o impossível perante as realidades físicas escolares, necessidades relacionais de toda a população escolar e o desejável perante a situação concreta, algo caberá a cada um colaborar, tendo em consideração o tão importante bem-estar relacional entre as crianças e os jovens.

Chegados a casa no final do dia, nada como um bom banho, primeiro que tudo.
Será uma forma de adquirir algum relaxamento físico e psíquico concreto, para além do óbvio objetivo de higiene corporal. Sim, relaxamento. Um dia de escola só por si é fonte de exigências e de tensões interpessoais. Este ano acrescem as ansiedades de toda a comunidade escolar, cada um à sua maneira.

Os alunos ambicionam chegar a casa para baixar as suas defesas e “expulsar” as suas tensões.

É a casa, por natureza, o espaço contentor para este desaguar de emoções. Pretende-se que o aluno fique na soleira da porta, entra o filho. Mas, filho portador das emoções do aluno que foi durante o dia.
Assim, neste momento de reencontro familiar, é de extrema importância os pais estarem muito conscientes das suas próprias emoções e sentimentos. Pais também recetores de toda a tensão do seu dia de trabalho e cumprimento de regras, para além da perpétua insegurança de tudo estar a ser feito na escola em conformidade.

Repito: consciência dos pais das suas próprias emoções.
Com esta consciência também conseguirão estar mais capazes de entender as emoções trazidas pelos filhos, acumuladas ao longo do seu dia. Ansiedades mútuas são um potencial fator desencadeante de conflitos difíceis de gerir. Com essa consciência os pais mais facilmente conseguirão separar causas de desentendimentos, dificuldades de obediência ou divergências.

Permitir um primeiro momento de silêncio ou mesmo retirada para outra divisão da casa (o tal banho, por exemplo!) será fundamental em muitos casos para este apaziguamento inicial necessário e reencontro de cada um em si próprio.

Então, conforme a dinâmica de cada família, o jantar poderá/deverá ser o momento por honra de partilha.
Sim, partilha.
Mais do que grandes questionários, a partilha de conversas, vivências do dia, é fundamental.
Quanto mais os pais transmitirem de como passaram o dia, como se foram sentido, mais os filhos terão também vontade de falar deles próprios, de forma mais verdadeira e libertadora. Momento de restaurar energias pois outro dia virá.
Seria muito importante que, com uma abordagem sempre globalizante e atenta em saúde mental, se conseguisse evitar ao máximo medicações, como é o meu princípio como Pedopsiquiatra.

Dr.ª Elsa Martins
Médica Pedopsiquiatra

https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/referencial-escolas-controlo-da-transmissao-de-covid-19-em-contexto-escolar-pdf.aspx